
Agostinho Ascenção da Silva era um idoso de 86 anos, muito querido por familiares, vizinhos e amigos. Ele tinha o hábito de ficar sentado em frente de casa e no dia 14 de outubro de 2022 não foi diferente: lá estava ele, sentado, podendo descansar, enquanto observava a movimentação na rua.
Porém, aquele dia não terminaria como os demais. Infelizmente, Agostinho foi atropelado na porta de sua casa, no bairro Capanema, em Itabirito. O idoso foi atropelado pela cantora Júlia Reis, que estava subindo o morro da rua Francisco Augusto Malheiros.
Agostinho ficou gravemente ferido, foi levado para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Celso Matos da Silva, em Itabirito, mas precisou ser encaminhado para o Hospital de Pronto-Socorro João XXIII, em Belo Horizonte, onde teve várias paradas cardíacas. Precisou também amputar uma das pernas, que já havia praticamente sido arrancada com o impacto do atropelamento, teria que amputar também a outra perna, mas acabou falecendo devido às complicações de saúde. O corpo de Agostinho foi velado e sepultado no dia 19 de outubro.
No último sábado (08), a família de Agostinho resolveu colocar uma faixa na casa onde ele residia, local onde ele foi atropelado: “Estamos lutando por justiça!!! Senhor Agostinho, a sua morte não fica impune.”
Momentos de desespero
O Sou Notícia conversou com Nilson Ribeiro da Silva, filho caçula do senhor Agostinho. Para Nilson, aquele 14 de outubro foi um dia que nunca terminou. Há quase 9 meses, ele luta para conviver com a dor da perda de seu pai, que era também seu melhor amigo e vizinho.
Nilson relatou que, ao chegar em casa naquele dia, cumprimentou o pai e seguiu para o interior da residência para realizar algumas tarefas relacionadas ao trabalho. No entanto, pouco tempo depois, ouviu um forte barulho e o grito desesperado do pai. Acreditando no pior, Nilson correu para fora da casa e se deparou com o carro sobre o seu pai. Ele foi o primeiro a chegar ao local do acidente e viveu momentos de desespero.
Segundo Nilson, a condutora do veículo envolvido no incidente, Júlia Reis, que se apresenta como cantora e influencer, ainda estava dentro do carro, segurando o celular com a mão esquerda, aparentemente tentando fazer o veículo funcionar.
O filho da vítima, ao lado da porta do passageiro, tentou retirar a chave do carro, enquanto a condutora tentava ligá-lo, conforme as palavras de Nilson.
Como a pancada foi extremamente forte, o portão da garagem da casa de Agostinho acabou se abrindo, possibilitando que a condutora pudesse sair do local, passando pelo terreiro da casa e por trás da vítima, em direção à rua, de acordo com Nilson, que afirma que Júlia, mantendo o celular em mãos, não prestou socorro ao idoso.
Os vizinhos prontamente acionaram os serviços de resgate, que chegaram em aproximadamente cinco minutos. Infelizmente, a colisão foi tão impactante que o carro prensou a vítima e recuou, resultando em uma grave lesão na perna do idoso, que estava presa apenas por uma pequena porção de pele, com os ossos expostos e sangramento intenso.
Em meio ao desespero, o filho da vítima clamava por ajuda aos vizinhos. “Eu disse que meu pai infelizmente não volta vivo do hospital. E foi o que aconteceu”, lamentou Nilson.
Segundo os relatos de populares, não havia obstruções na rua e a condutora teria invadido a contramão em alta velocidade, a mais de 60 km/h, em terceira marcha, conforme confirmado pela perícia, segundo o depoimento de Nilson ao Sou Notícia.
O filho da vítima também enfatizou que tentou reproduzir o percurso na velocidade atingida pela jovem no dia do atropelamento e constatou a inviabilidade da manobra realizada pela motorista. A cena do acidente, com a posição do veículo, indica que ela estava subindo a ladeira em velocidade acima do ideal.
Depoimento
A motorista Júlia Reis relatou em seu depoimento que estava dirigindo o veículo pela rua Nossa Senhora da Glória quando, ao entrar na rua Francisco Augusto Malheiros, deparou-se com uma criança de aproximadamente dois anos que estava saindo da calçada e caminhando em direção à rua.
Júlia disse que se lembrava apenas da mãe da criança pegando-a pelo braço. Após esse momento, Júlia afirmou que não conseguia se recordar de mais nada que tenha ocorrido antes do acidente. Ela argumentou que só recuperou a consciência quando o acidente já havia ocorrido.
Provocações
Uma das noras do falecido, Andreia relatou ao Sou Notícia a aflição vivida na época, quando recebeu uma ligação da sua cunhada pedindo ajuda. A urgência da situação levou Andreia até a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Celso Matos da Silva, em Itabirito. Ao chegar à UPA, Andreia foi informada de que seu sogro estava em estado gravíssimo, sendo entubado após sofrer várias paradas cardíacas.
De acordo com Andreia, o pai da atropeladora foi até a UPA para provocar a família do senhor Agostinho. “O Carlos, pai da Júlia, chegou dizendo que era tio da vítima. Eu na hora questionei e falei que ele não era tio dele, pois eu era nora do Agostinho e não o conhecia. Ele então me disse que era tio do rapaz que tinha atropelado o meu sogro. Eu acreditei, pois até aquele momento eu não sabia quem tinha atropelado o meu sogro. Naquele momento, o senhor Carlos me disse que iria até o local para retirar o carro do seu sobrinho. Eu pedi a ele que não fosse lá, pois todos ali estavam com os ânimos exaltados. A resposta que eu tive do senhor Carlos é que ele iria lá retirar o carro sim, pois ele era homem e não tinha medo de nada. Eu me senti indignada, falei pra ele que não era questão de ter ou não coragem; que não tinha atropelado um animal e sim um ser humano. Aí ele veio pra cima de mim, com toda arrogância do mundo, achando que estava certo, cheio de razão. Os guardas e as pessoas que estavam por perto tiraram ele de perto de mim”, disse Andreia.
A nora do senhor Agostinho só descobriu a verdadeira identidade de Carlos quando sua cunhada, Denise, esposa de Nilson, chegou à UPA. Durante esse tempo, Carlos retornou ao local do acidente e novamente provocou os filhos da vítima.
A informação foi confirmada por Nilson. “Ele foi lá me afrontar, gritando que a condutora do veículo era filha dele. Eu disse para ele que a filha dele, inconsequente, matou meu pai. Ao invés de chegar lá para conversar, manifestar apoio, ele foi afrontar.”
Outra situação que deixou a família de Agostinho indignada foi o fato da cantora Júlia Reis ter se apresentado em um karaokê um dia após acidente (conforme pode ser visto abaixo), enquanto o idoso ainda estava em estado grave no Hospital João XXIII.
“O que eu senti (assistindo ao vídeo) é que é uma pessoa que não demonstra ter sentimentos; que não se importa com o próximo. Pode ser que ela pensou que era só um idoso; que ele já estava no fim da vida. Mas era um pai de família, avô, bisavô. Um homem saudável, que não fazia uso de remédios, e que estava sentado na porta de casa. Eu sei que ela não saiu de casa com intenção de matar, mas ela assumiu o risco, a partir do momento que ela estava subindo o morro a mais de 60 quilômetros por hora”, enfatizou Nilson.
Os familiares de Agostinho expressam sua indignação pelo fato de não terem sido procurados pela família da motorista que atropelou o idoso e nem terem recebido qualquer pedido de desculpas. Além disso, a família sente-se revoltada com a publicação nas redes sociais em que Júlia Reis afirmou ter prestado assistência, enquanto eles nunca foram contatados ou receberam qualquer forma de apoio.
“Não nos procuraram em momento algum. E agora, não quero que me procurem. Quero que eles mantenham distância de mim e da minha família, pois quando precisamos de apoio, eles não deram”, ressalta Nilson.
Júlia Reis chegou a se pronunciar sobre o atropelamento na época do ocorrido e a assessoria da cantora também divulgou uma nota de esclarecimento:
Abalo emocional
Segundo Denise, esposa de Nilson, a dor da perda e as lembranças do terrível acidente fizeram com que a esposa de Agostinho, dona Raimunda, uma idosa de 80 anos, não conseguisse mais viver na casa em que residiram por quase 50 anos. O mesmo relato foi passado ao Sou Notícia por Andreia.
As noras da vítima contam que a família vem passando por uma série de desafios que têm impactado significativamente suas vidas. Nilson recebeu acompanhamento médico por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), mas a situação tem exigido uma vigilância constante de seus familiares, especialmente durante as noites, quando ele demonstra sinais de tristeza e choro.
Preocupados com a segurança de Nilson, a família tem se mantido vigilante, buscando estar ao seu lado e apoiá-lo durante esses momentos difíceis.
“Esse caso não vai ficar esquecido. Eu lembro do meu pai todos os dias. Meu pai sofreu demais. Eu vi, fiquei de frente pra ele, sem saber o que fazer, enquanto ele perdia as forças. Eu, sem saber se abraçava, o que fazer. Tive que passar por psicólogo, chorei muito. Minha filha Julya vai ter que fazer tratamento psicológico. Ela viu o avô com a perna decepada”, disse Nilson, emocionado ao narrar os acontecimentos daquele dia, o pior de sua vida.
Diante desses desafios, a família tem buscado forças na fé, pedindo a ajuda divina para superar as adversidades. Eles esperam que a situação melhore e que possam encontrar o apoio e a estabilidade necessários para uma vida mais saudável, quando a justiça finalmente for feita.
“Queremos justiça”
A família clama por justiça diante da forma como tudo aconteceu após o acidente. Eles compreendem que foi um acidente, mas não aceitam a maneira como foram tratados posteriormente. Os familiares de Agostinho buscam por respostas e esperam que a haja justiça diante dessa terrível situação.
“Eu não quero afrontar ninguém. Não queremos vingança. Só queremos que seja feita a justiça. E eu sei que a justiça de Deus não falha, mas quero que ela seja julgada e pague pelo crime que ela cometeu. Como ela vai pagar, a Justiça vai definir, mas quero que ela seja responsabilizada pelo que ela fez e que reflita sobre o ocorrido, para que não se repita“, acrescenta Nilson.
O caso está em andamento e a família torce para que as autoridades investiguem o ocorrido minuciosamente, para que haja responsabilização pelos atos cometidos. Os familiares da vítima são representados pela advogada Valéria Anadia Albuquerque, que atua juntamente como assistente de acusação. A equipe do Sou Notícia tentou informações sobre o andamento do caso com Valéria, mas a advogada afirmou que não opina em processo em andamento.
O que diz a Polícia Civil
A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) encaminhou uma nota sobre o caso ao Sou Notícia. Conforme a PCMG, um inquérito foi instaurado para investigar as causas do acidente à epoca do atropelamento.
A PCMG ressaltou que Júlia Reis foi indiciada por homicídio culposo na direção de veículo automotor e que o inquérito foi encaminhado para o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG).
Confira a nota na íntegra
“Em relação ao acidente de trânsito com vítima registrado na data de 14 de outubro do ano de 2022, em Itabirito, a Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG), à época do fato, instaurou inquérito policial para apurar as circunstâncias e causas do acidente que vitimou um idoso, de 86 anos.
O procedimento investigativo foi devidamente instruído com laudos periciais e diversas oitivas, sendo relatado com o indiciamento da condutora do veículo, de 20 anos, pelo crime previsto no art. 302 do Código de Trânsito Brasileiro (Art. 302. Praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor).
A PCMG concluiu o inquérito policial, na data de 29 de dezembro do ano passado, sendo ele remetido à justiça para as medidas legais cabíveis.”
A equipe do Sou Notícia tentou informações sobre o andamento do processo junto ao Ministério Público de Minas Gerais e segue aguardando os detalhes que foram solicitados, como, por exemplo, a previsão de quando ocorrerá a primeira audiência do caso. Segundo informações preliminares recebidas pelo Sou Notícia, por fonte não-oficial, a audiência estaria prevista para 2024.
O Sou Notícia procurou também a assessoria de imprensa da cantora Júlia Reis, para que a condutora do veículo que atropelou o idoso pudesse se manifestar sobre o assunto, mas não houve retorno até o momento de publicação desta matéria.
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