Em 5 de novembro de 2023, completar-se-ão oito anos desde o devastador rompimento da Barragem de Fundão, um dos maiores crimes socioambientais da história do Brasil. Em virtude deste triste marco, a Comissão dos Atingidos pela Barragem de Fundão (CABF) realizará uma coletiva de imprensa no dia 1º de novembro, às 10h, na Casa de Cultura de Mariana, para fazer um balanço das condições em que se encontram as pessoas que foram vítimas desse desastre e que continuam a sofrer graves violações de direitos humanos.
O rompimento da barragem, operada pela mineradora Samarco (em parceria com as acionistas Vale e BHP Billiton), resultou na devastação de comunidades inteiras, na perda de 19 vidas humanas e em danos inestimáveis às vidas de milhares de famílias. Desde 2015, os atingidos de Mariana têm lutado incansavelmente pela reparação integral dos danos causados e pela reconstrução de suas condições de vida.
As consequências desse desastre, de proporções sem precedentes, forçaram pessoas de comunidades rurais a se realocarem para áreas urbanas, onde enfrentam inúmeras dificuldades na reorganização de suas vidas após terem sido vítimas de violência em escala tão avassaladora.
O reassentamento das comunidades afetadas pela tragédia foi uma conquista dos próprios atingidos, mas a lentidão do processo tem gerado frustração e incerteza em relação ao futuro. Os prazos para a conclusão dos reassentamentos têm sido frequentemente alterados, e tais descumprimentos nunca foram sancionados judicialmente. Como resultado, muitas pessoas acabam falecendo sem vivenciar a reparação integral ou o retorno às suas casas. Além disso, muitas das residências entregues este ano apresentam problemas estruturais.
É importante ressaltar que os reassentamentos não são fiéis ao modo de vida das comunidades que foram afetadas pela tragédia. A maioria dessas comunidades cultivava seus próprios alimentos de forma orgânica, criava animais para consumo, pescava em rios, coletava lenha, plantas medicinais e madeira nas matas, e frequentemente compartilhava alimentos com vizinhos, familiares e amigos. Toda essa forma de vida foi devastada por uma onda de rejeitos que persiste ao longo do tempo.
Hoje em dia, além do alto custo dos alimentos nas áreas urbanas, sua origem e qualidade são duvidosas e desconhecidas. Mesmo nos reassentamentos, o retorno a esse modo de vida se mostra incerto devido à topografia dos terrenos e à falta de acesso à água bruta. Portanto, os impactos do rompimento da Barragem de Fundão também resultaram em uma perda incalculável de soberania, segurança hídrica e alimentar nas comunidades afetadas.
As famílias que antes tinham acesso a água em abundância, vindas do Rio Doce e seus afluentes, agora enfrentam a impossibilidade de usar esse recurso devido à falta de tratamento adequado dos rejeitos. Isso afeta gravemente a retomada da produção econômica e o direito à moradia.
Além das terras devastadas, das histórias interrompidas e das mudanças forçadas de estilo de vida, os atingidos pelo desastre enfrentam um ambiente que muitas vezes não reconhece ou apoia suas reivindicações de direitos.
A CABF, formada em novembro de 2015, é uma comissão dedicada à luta pelos direitos dos atingidos de Mariana. Ao longo dos anos, ela se tornou uma referência na busca por reparação integral dos danos causados pela mineração. No entanto, um desafio contínuo é a falta de reconhecimento de diversas famílias e comunidades como atingidas, o que as deixa excluídas do processo de reparação.
Neste oitavo aniversário do desastre, a luta dos atingidos continua, à medida que buscam justiça e reparação integral para as perdas e danos que sofreram, bem como a reconstrução de suas vidas e comunidades afetadas pela maior tragédia socioambiental do Brasil.