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Peter Turkson, de Gana, pode se tornar o primeiro Papa negro da história da Igreja Católica; veja quem são os favoritos

Com a morte do Papa Francisco, a Igreja Católica entra em um momento decisivo de transição. A “sede vacante” — período em que o trono de São Pedro está oficialmente desocupado — já mobiliza os bastidores do Vaticano e desperta o olhar atento de bilhões de fiéis ao redor do mundo.

O cenário? A Capela Sistina, onde 135 cardeais com menos de 80 anos se reunirão para o tradicional conclave, um processo centenário, repleto de rituais e cercado de sigilo. A data exata ainda será definida pelo camerlengo Kevin Farrell, mas o encontro deve ocorrer nas próximas semanas.

Enquanto isso, começam as apostas e especulações sobre quem será o sucessor de Francisco — o Papa reformista, que colocou a periferia no centro da Igreja, questionou o eurocentrismo e enfrentou com coragem temas como migração, pobreza e justiça ambiental.

Entre os favoritos, um nome chama atenção: Peter Turkson, de Gana. Com longa carreira no Vaticano e um histórico de atuação em justiça social e ecologia, Turkson reúne experiência, reconhecimento interno e um simbolismo poderoso: se eleito, será o primeiro Papa negro da história.

Com a morte do Papa Francisco, ressurge um antigo debate alimentado pelas profecias de Michel de Nostradamus — o enigmático astrólogo francês do século XVI, cujos escritos continuam a instigar curiosos, crentes e estudiosos. Entre as previsões mais comentadas, está aquela que menciona a ascensão de um “Papa Negro”, cercada de múltiplas interpretações e, para alguns, presságios apocalípticos.

Famoso por suas quadras poéticas e linguagem deliberadamente obscura, Nostradamus é frequentemente creditado por supostas previsões de eventos históricos marcantes, como a Revolução Francesa e o ataque às Torres Gêmeas. No universo católico, no entanto, uma de suas profecias tem ganhado novo fôlego: a ideia de que um Papa “negro” sucederia um pontífice idoso e, com isso, marcaria o fim da Igreja como a conhecemos.

Há, basicamente, três interpretações predominantes. A primeira, mais literal, associa a profecia à possível eleição de um Papa africano — algo inédito na história moderna da Igreja. Embora a fé cristã tenha raízes profundas no continente africano, nenhum pontífice nascido na África foi eleito nos últimos 1.500 anos. Os únicos papas com origens africanas foram São Vítor I, São Melquíades e São Gelásio I, ainda nos primeiros séculos do cristianismo, entre os séculos II e V.

A segunda interpretação remete ao uso simbólico da cor preta, sugerindo que o “negro” não se refere à etnia, mas às vestes. Nesse sentido, o “Papa Negro” seria o Superior Geral da Companhia de Jesus — posição tradicionalmente apelidada dessa forma por conta do traje escuro dos jesuítas, em contraste com a batina branca papal. Como o Papa Francisco é jesuíta, muitos argumentam que a profecia já teria se cumprido com sua eleição, ainda que de forma figurada.

A terceira leitura combina as anteriores e aposta na ideia de um cardeal negro, africano e, talvez, jesuíta — como o ganês Peter Turkson, nome hoje ventilado como um dos favoritos ao trono de São Pedro. Sua eleição simbolizaria não apenas a realização de uma antiga previsão, mas também uma virada histórica: o deslocamento definitivo do centro da Igreja para além dos muros europeus.

Em uma de suas quadras mais citadas, Nostradamus fala da morte de um “velho pontífice” e da ascensão de um jovem de “pele escura”. A ambiguidade da palavra “pele” — que pode aludir tanto à cor da pele quanto às vestes — alimenta diferentes leituras.

A profecia, por mais discutida do que comprovada, continua a ecoar nos momentos de transição papal. Em tempos de incertezas e disputas dentro da própria Igreja, essas previsões ganham ainda mais força simbólica — mesmo entre os céticos. Afinal, mais do que prever o futuro, os escritos de Nostradamus parecem oferecer um espelho do presente: um mundo em busca de sentido, prestes a testemunhar mais um capítulo decisivo da história católica.

Mas Peter Turkson não está sozinho na disputa. O cenário está repleto de nomes que indicam caminhos distintos para o futuro da Igreja.

Quem são os nomes mais cotados?
Matteo Zuppi:
arcebispo de Bolonha, respeitado por sua habilidade conciliadora e proximidade com comunidades marginalizadas. Tem apoio forte entre os que desejam continuidade.

Luis Antonio Tagle: das Filipinas, teologicamente afinado com Francisco, é visto como ponte entre tradição e renovação, especialmente para a Igreja na Ásia.

Pietro Parolin: secretário de Estado do Vaticano, com extensa bagagem diplomática. Aparece como opção de transição estável.

Dom Sérgio da Rocha: brasileiro, arcebispo de Salvador, é apontado como possível surpresa vinda da América Latina. Integra o conselho próximo do Papa (C9) e tem perfil discreto, mas estratégico.

No campo conservador, surgem nomes como Willem Eijk (Países Baixos) e Raymond Leo Burke (EUA), críticos duros das reformas de Francisco. Apesar da visibilidade, analistas apontam que suas chances são menores diante da atual composição do colégio cardinalício.

Francisco mudou o mapa do poder no Vaticano. Dos cardeais eleitores, 108 foram nomeados por ele. A Europa, que em 2013 tinha 52% das cadeiras, hoje detém 39%.

O Papa argentino promoveu cardeais em regiões até então esquecidas pela cúpula da Igreja: Mongólia, Sudão do Sul, Tonga, Suécia, Cabo Verde… A mensagem foi clara: o catolicismo não é propriedade da Europa.

Essa descentralização está refletida no conclave que se aproxima. Ainda que o nome mais forte venha da Itália ou de outro país europeu, o peso simbólico e político da periferia global nunca foi tão alto.

O conclave será realizado em absoluto sigilo. Quando os cardeais entrarem na Capela Sistina e as portas forem fechadas, o mundo observará apenas uma coisa: a chaminé.

Fumaça preta, nenhum nome.
Fumaça branca, habemus papam.

Até lá, a espera é inevitável. Mas o que está em jogo é muito mais do que um nome: é o rumo de uma Igreja em transformação.

Conclave para escolha do sucessor do Papa Francisco terá participação de sete cardeais brasileiros
O Conclave, processo reservado da Igreja Católica responsável por escolher o novo Papa, contará com a presença de sete cardeais brasileiros. A data oficial para o início da reunião ainda não foi divulgada e dependerá da conclusão dos ritos funerais de Francisco. A morte do pontífice, aos 88 anos, encerra um papado marcado por posicionamentos progressistas, reformas institucionais e forte presença nas questões sociais e ambientais.

O Conclave reúne atualmente 252 cardeais, dos quais 138 têm menos de 80 anos e, portanto, são eleitores — conforme determina o direito canônico. Apenas esses cardeais podem votar. O processo de escolha é sigiloso, e apenas os membros participantes conhecem os debates e deliberações. As normas atuais foram estabelecidas em 1996, pelo então Papa João Paulo II, e determinam que o Conclave deve começar entre 15 e 20 dias após a morte ou renúncia do pontífice.

Entre os brasileiros que terão papel ativo na eleição do próximo Papa, estão líderes de arquidioceses estratégicas no Brasil, com atuação marcante tanto no campo pastoral quanto acadêmico e político. São eles:

Dom Odilo Scherer (75 anos) — São Paulo (SP)

Arcebispo da maior arquidiocese do país desde 2007, Dom Odilo tem trajetória sólida em Roma e notória atuação durante a pandemia, ao criticar a condução da crise sanitária pelo governo federal. É também Grão-Chanceler da PUC-SP.

Dom Orani João Tempesta (75 anos) — Rio de Janeiro (RJ)

Conhecido por organizar a Jornada Mundial da Juventude de 2013, no Rio, Dom Orani é figura influente na comunicação da Igreja no Brasil e tem papel ativo em comissões no Vaticano, como a Pontifícia Comissão para a América Latina.

Dom Paulo Cezar Costa (58 anos) — Brasília (DF)

Com formação acadêmica pela Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma, Dom Paulo é um dos mais jovens cardeais brasileiros no Conclave. Foi nomeado arcebispo de Brasília em 2020, após passagens marcantes por São Carlos (SP) e a CNBB.

Dom Leonardo Steiner (74 anos) — Manaus (AM)

Primeiro cardeal da Amazônia, Dom Leonardo se destaca por sua defesa da floresta e dos povos indígenas. Foi secretário-geral da CNBB por oito anos e tem trajetória acadêmica sólida, com doutorado em Filosofia em Roma.

Dom Sérgio da Rocha (66 anos) — Salvador (BA)

Arcebispo primaz do Brasil, Dom Sérgio tem formação em Teologia Moral e ampla experiência pastoral no Nordeste e no Centro-Oeste. Atuou em várias comissões da CNBB e no Vaticano, além de ter sido arcebispo de Brasília e Teresina.

Dom Jaime Spengler (65 anos) — Porto Alegre (RS)

Atual presidente da CNBB, Dom Jaime tem destacada atuação como educador e em missões religiosas internacionais. Sua liderança é reconhecida por diálogos inter-religiosos e defesa dos direitos humanos.

Dom João Braz de Aviz (78 anos) — Emérito de Brasília e membro do Vaticano

Apesar de não exercer mais função arquidiocesana no Brasil, Dom João ocupa cargo no Vaticano como prefeito emérito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada. Ele participou de importantes eventos como o Sínodo da Amazônia e possui longa trajetória pastoral no país.

Um nome citado, mas sem direito a voto

O cardeal Dom Raymundo Damasceno Assis, de 88 anos, também integra o Conclave, mas não poderá votar, pois ultrapassa o limite de idade. Ainda assim, pelas regras da Igreja, pode ser escolhido como novo Papa, embora essa possibilidade seja rara.

As informações são de O Tempo, Reuters, Extra e Forbes Brasil.

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