Exportação de alimentos cresce mas seca e pandemia agravam fome no campo

O Brasil vive uma contradição: nosso país é o segundo maior exportador de alimentos do mundo, segundo a Organização Mundial do Comércio (OMC), mas 3 em 4 domicílios localizados nas áreas rurais (72%) se encontram em situação de insegurança alimentar (quando a frequência das refeições não é garantida). Esses são dados da Universidade Livre de Berlim publicado em abril e que se refere ao período entre agosto e dezembro de 2020.
Insegurança alimentar se dá quando a alimentação é de má qualidade, o acesso ao alimento é difícil ou até mesmo a fome é registrada. Essa insegurança alimentar no campo supera o das cidades (55,7%) e do Brasil (59,4%), o que pode ser justificada pela concentração no acesso à terra, a limitação dos recursos hídricos e o menor acesso das comunidades rurais afastadas dos serviços públicos e de doações de alimentos.
Ainda que a forte seca tenha piorado a situação neste ano de 2021, o sistema alimentar que rege o Brasil produz uma grande desigualdade, é o que afirma o coordenador da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan), Renato Maluf.
Segundo o pesquisador, o modelo agropecuário atual concentra a propriedade e exerce impactos sociais e ambientais sem a perspectiva de alimentar verdadeiramente as pessoas. “O mundo nunca produziu tantos alimentos como agora e a fome continua”, afirma.
Já de acordo com o IBGE, o arroz brasileiro acumula alta de preços de 57% em 12 meses até abril, o que reforça a idéia de que a fome não é resultado da falta de produção de alimentos e sim da falta de acesso a eles. O estado de Minas Gerais está incluso no quadro de estados que estão em alerta de emergência hídrica no período de junho a setembro, de acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, devido a seca e baixo volume de chuvas, o que agrava ainda mais a situação de fome no estado.

Esse período de seca deixa a agricultura familiar muito fragilizada uma vez que o pequeno agricultor planta mas às vezes perde o que plantou, deixando de poder comercializar ou consumir, piorando a situação.
A inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumula alta de 6,76% em 12 meses até abril. Os alimentos e bebidas, no entanto, subiram quase o dobro disso, com um avanço de 12,31% no mesmo período. Itens básicos como óleo de soja (82%), arroz (57%), feijão preto (42%), carnes (35%) e o botijão de gás (21%) usado para cozinhar acumulam aumentos de preços ainda mais expressivos.