Instalação LAMA evidencia impactos causados pelo rompimento das barragens em Mariana e Brumadinho
rtista ouro-pretano Sussuca apresenta um roteiro artístico com pinturas, esculturas e objetos abordando a mineração e os danos decorridos dos desastres em Minas Gerais

Sensibilizado e inspirado pelas tragédias com o rompimento das barragens em Minas Gerais, o artista plástico Roberto Sussuca criou a instalação LAMA. Nela, ele registra e expressa os acontecimentos por meio da sua arte. Aborda o tema de maneira impactante, ressaltando os resultados da interação entre a atividade minerária e a vida humana no seu entorno. Tais acontecimentos ceifaram centenas de vidas humanas, destruíram campos e vilarejos, causando forte contaminação no meio ambiente.
A instalação apresenta um conjunto de aproximadamente 50 obras, entre pinturas, esculturas e objetos e será exposta na Casa dos Contos, tradicional espaço cultural de Ouro Preto (MG). A mostra fica disponível ao público de 4 de outubro a 10 de novembro.
As obras ilustram cenas que ficaram amplamente conhecidas do público pela cobertura da mídia. Assim, retratam os fatos ocorridos em Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo, distritos de Mariana atingidos pelo rompimento da barragem de Fundão, em 5 de novembro de 2015, como também os de Brumadinho, com a ruptura da barragem da mina do Córrego do Feijão, em 25 de janeiro de 2019.
O artista conta que idealizou esse trabalho há cerca de um ano, quando experimentava a produção de tintas resultantes de pigmentos naturais. O material-base da pigmentação utilizada é oriundo da limonita, um minério de composição variada, resultado basicamente da mistura de hidróxido de ferro, nesse caso, retirado de áreas de garimpo de topázio imperial. Com base nas tonalidades e texturas dessa rocha, começou a criar obras que representavam as minas. A partir daí, criou o conceito da instalação.
A abertura da instalação LAMA será no dia 4 de outubro, sexta-feira, às 20h. A visitação segue até 10 de novembro, sendo segunda, de 14 às 18h; e de terça a domingo e feriados, de 10h às 18h. A entrada é franca. A Casa dos Contos fica localizada no coração de Ouro Preto, à rua São José, nº 12 – Centro.
Sobre o artista
Roberto Sussuca é ouro-pretano e considerado um artista experimentalista. Desde a juventude dedica sua vida à arte, expressa por meio de desenhos, pinturas, gravuras e esculturas. Foi um dos primeiros artistas a fazer instalações em Minas Gerais, nos anos de 1970 e 1980.
Sou Técnico de Mineração ETFOP – Escola Técnica Federal de Ouro Preto 1976 e Engenheiro de Minas – Escola de Engenharia da UFMG 1982.
Historicamente o processo de concentração do minério de ferro adotado pela VALE S/A e outras mineradoras nas minas onde as barragens de rejeitos se romperam e nas outras minas interditadas se denomina Flotação. É a separação dos rejeitos do minério por aeração com base nas características físico-químicas dos componentes da mistura. Trata-se da separação da parcela mais rica em ferro dos minérios após serem britados e finamente moídos. A parcela rica em ferro é separada dos rejeitos que são a sílica, a alumina e outros contaminantes menores. Neste tratamento industrial o minério passa por um processo que propicia a “flutuação” da parcela mais leve rica em sílica e alumina por aderência às bolhas de ar na aeração da mistura do minério bruto (ROM – Run of Mine) moído com os aditivos floculantes e água. Este material recebe o nome de “polpa”. Para isto são utilizados separadores onde se colocam esta polpa. O nome do minério de ferro no Quadrilátero Ferrífero é o Itabirito, composto por camadas sucessivas de ferro e outras camadas de sílica contaminada com alumina e outros componentes minerais menores. O concentrado de ferro se deposita no fundo dos separadores e os aditivos utilizados fazem com que a parte menos densa “flutue” por adesão às bolhas de ar que são insufladas nas “bacias” dos Separadores. Este rejeito dos separadores são posteriormente depositados nas barragens de rejeito juntamente com a água e os ADITIVOS químicos que continuam atuando por tempo indeterminado e mantendo os materiais depositados nas barragens numa condição de “polpa” indefinidamente, atrapalhando a sua sedimentação adequada no fundo das barragens.
Como estes aditivos são orgânicos e ficam estocados num ambiente sem a presença de oxigênio nunca se degradam. Esta sedimentação expurgaria a água e tornaria os maciços mais estáveis, podendo até mesmo serem compactados e revegetados com cobertura de material orgânico fora dos vales de rios ou cursos d’água como é feito hoje na mina S11D no Pará. O processo pode ter uma etapa de aquecimento da polpa para evaporação da água e queima dos materiais oleaginosos e o amido (orgânicos).
Porque é que a polpa direcionada às barragens não se sedimenta: A parcela que é aproveitada na pelotização é o concentrado de ferro, mas a parcela contaminada com material silicoso-aluminoso junto com a água e o Oleato de Sódio (ou outro material oleaginoso), o Amido (material orgânico) e os outros contaminantes é gerada em grandes volumes e seca-la em temperaturas adequadas encareceria o custo do processo de produção. Estes rejeitos não tem destinação que gere lucro para as empresas e sua composição não permite a compactação por décadas e décadas.
As próprias empresas não saberiam afirmar quando é que este tipo de material se sedimentaria. Não existem exemplos práticos sobre a questão. Isto a empresa não informou e a imprensa não pesquisou. A VALES/A matou duas das principais bacias hidrográficas de MG e porque não do Brasil. Centenas de vidas foram ceifadas e o resultado foi o maior desastre socioambiental da história deste país. A VALE S/A já sabia que todas as barragens de alteamento à montante já tinham problemas há anos. Agora que os desastres já aconteceram adotaram a estratégia de dar avisos de emergência em todas as regiões onde estão localizadas estas barragens interditadas. Logo após o segundo acidente criminoso o ex Presidente da empresa Schvartsman anunciou que iriam “DESCOMISSIONAR” as barragens, aquelas que foram interditadas por altíssimo risco. Ele não divulgou que “DESCOMISSIONAR” significa reprocessar o “rejeito” estocado há 30, 40 anos ou mais nas barragens, mas que para os padrões atuais ainda têm altos teores de ferro. Antigamente os processos de concentração eram ineficazes e geravam um rejeito ainda muito rico em ferro. Esta estratégia “brilhante” reprocessará o material já lavrado, britado e moído contendo Oleato de Sódio e Amido, recuperando o minério rico e mantendo assim as minas interditadas em operação e gerando lucro. Os Órgãos de Controle como a ANM, a FEAM e a imprensa são mal informados ou coniventes. A VALE S/A pode estar blefando e enganando a população e os Órgãos de Controle mais uma vez.
Observe nas imagens divulgadas pela mídia que após os rompimentos das barragens o material se “espalha” pelos vales se expondo finalmente ao sol e se oxidando. Desta forma se tornam um material pulverulento, seco e pode ser então carregado pelas retroescavadeiras e transportado por caminhões fora dos vales dos cursos d’água. Porque não fizeram isto antes?
Confirme isto junto aos especialistas em Tratamento de Minérios das Universidades e aos tecnologistas das empresas.