Ouro Preto é o município com maior número de barragens de rejeitos em risco no Brasil
A cidade histórica de Ouro Preto enfrenta uma ameaça silenciosa que compromete suas cachoeiras pitorescas e bens tombados. A população local convive diariamente com o medo, a poeira e a destruição de seus patrimônios naturais devido ao grande número de barragens de minério existentes na área.
De acordo com levantamento feito por O TEMPO no Sistema de Gestão de Segurança de Barragem de Mineração (SIGBM), da Agência Nacional de Mineração (ANM), em dezembro de 2023, Minas Gerais abriga 51 barragens com algum nível de alerta, sendo 26 delas sem estabilidade comprovada pelas empresas responsáveis.
Ouro Preto lidera o ranking negativo, com dez barragens sob risco, incluindo cinco nos níveis mais altos de emergência (2 e 3). O engenheiro hidráulico e especialista em estruturas de barragem, Carlos Barreira Martinez, comparou os níveis de alerta ao corpo humano, enfatizando que o Nível 3 representa um desastre em andamento.
A previsão sombria é que a eliminação dessas barragens dure até 2035, segundo as empresas responsáveis. Em 2019, uma lei determinou a descaracterização de todas as barragens até 2022, mas apenas 10 foram desmontadas até o prazo final, conforme a Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam).
O risco aumenta com a chegada do verão chuvoso, e a população local deve permanecer vigilante. A cidade de Ouro Preto é particularmente vulnerável, com o complexo da Mina de Fábrica destacando-se como um dos casos mais preocupantes, abrigando cinco barragens em diferentes níveis de emergência. A barragem Doutor, da Vale, localizada a 25 quilômetros de Ouro Preto, também está sob atenção, ameaçando a Cachoeira do Pinguela, um sítio arqueológico e a Ermida de Nossa Senhora Aparecida de Bento Rodrigues.
A situação ganha proporções mais críticas considerando o impacto que o rompimento dessas barragens pode ter nos recursos hídricos, ameaçando não apenas os residentes locais, mas também o abastecimento de Belo Horizonte e região metropolitana. A barragem da Mina de Serra Azul, em Itatiaiuçu, classificada no nível mais alto de emergência, representa um perigo iminente ao reservatório Rio Manso, o maior da Grande BH.
Diante desse cenário preocupante, organizações e especialistas alertam para a necessidade urgente de aprimorar a segurança dessas estruturas e acelerar o processo de descaracterização, garantindo a preservação das riquezas naturais e a segurança das comunidades locais. A Vale, uma das maiores mineradoras do mundo, informou que está comprometida com a eliminação das 30 barragens existentes até 2035, investindo em descaracterização e monitoramento constante.
A Agência Nacional de Mineração (ANM) destaca a importância do Sistema de Gestão de Segurança de Barragem de Mineração (SIGBM) para fornecer informações transparentes sobre a situação das barragens em Minas Gerais, incentivando os empreendedores a priorizarem a segurança dessas estruturas. A população local, por sua vez, vive sob a sombra do desconhecido, enquanto aguarda medidas efetivas para garantir sua segurança e a preservação do patrimônio natural de Ouro Preto. As informações são de O TEMPO.