‘Meu filho não era bandido’, diz mãe de jovem de Itabirito encontrado morto em delegacia de Ouro Preto

“Ninguém fala nada. Meu filho não era bandido pra fazer o que fizeram com ele”, lamenta Jeanete Alves, mãe do jovem Charles Wallace dos Reis, de 23 anos, que foi encontrado morto no último domingo (21), dentro da delegacia de Ouro Preto, na Região Central de Minas Gerais. Negro, gay e militante de movimentos sociais, Charles era uma figura conhecida por sua atuação nas lutas em defesa das minorias em Itabirito, cidade na qual morava antes de partir rumo a Mariana, onde cursava história na Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP).
As circunstâncias da morte ainda não foram esclarecidas e a Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) abriu um inquérito para apurar o caso. O que se sabe é que o jovem teria discutido com seu parceiro em uma festa, realizada em Mariana, e ambos foram conduzidos para a delegacia de plantão, em Ouro Preto. Na unidade policial, dentro de uma cela, segundo a Polícia Militar, Charles teria tirado a própria vida com uso de um tirante (cordão) de uma caneca.

Agora, a família do jovem clama por justiça. A mãe de Charles conversou com o Sou Notícia sobre o caso e se mostrou indignada com a falta de informações sobre a morte.
“Uma mulher me ligou de manhã, no domingo, falando que ele tinha suicidado e que o corpo estava aqui no cemitério. Fui lá ver e ele estava muito machucado. Ninguém comunicou nada. Acho isso um absurdo, pois ele tem família, era um estudante. Não tiveram um pingo de respeito nem com ele, nem comigo”, afirma Jeanete.
Antes de ser encaminhado para a delegacia, Charles e seu namorado, com quem havia discutido, foram levados para a UPA de Mariana. O jovem lutava contra a depressão e Jeanete não entende porque não houve um acolhimento específico para esse caso, visando preservar a integridade física de seu filho.
“Se passaram com ele na UPA, porque não cuidaram dele lá? O menino que estava com ele falou pra eles que ele tinha depressão; que tomava remédio. Por que não cuidaram dele?”, questiona.
O fato de terem deixado o jovem sozinho em uma cela, sem tirar seus pertences, também é questionado por Jeanete. Por ser depressivo, segundo a mãe, Charles não deveria ter ficado sozinho enquanto aguardava para ser ouvido na delegacia.
“Ele precisava era de ajuda. Ele tinha medo de ficar sozinho. Coitado, não consigo nem imaginar no desespero que ele passou. Meu coração dói tanto só de imaginar o que fizeram com ele”, enfatiza.
Jeanete está desconsolada e quer que sejam esclarecidas as circunstâncias da morte de seu filho. “Ele tinha sonhos de se formar. A vida dele era a faculdade. Ele era um menino depressivo pela morte do pai, sem apoio da família do pai. Estava melhorando, feliz, veio aqui passar as férias, tava muito feliz, disse que estava fazendo algo para tentar um intercâmbio. Ele estava muito alegre, brincando. Não acredito até agora que ele se foi de uma maneira tão cruel. Muita covardia”, desabafa a mãe, que agora aguarda por novas informações sobre a causa da morte de Charles.
A perícia da PCMG esteve na delegacia de Ouro Preto, no domingo, para fazer os levantamentos iniciais que vão auxiliar a investigação. A conclusão dos laudos pode demorar até 30 dias, podendo variar, conforme a complexidade dos exames.
“Trataram meu filho como um lixo”, se revolta Jeanete, que agora, juntamente com demais familiares, amigos e parceiros de luta dos movimentos sociais, segue aguardando que o caso seja esclarecido.
A equipe do Sou Notícia lamenta profundamente o falecimento de Charles e solidariza-se com sua família neste momento de dor.