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Transporte escolar volta por conta própria de motorista em distritos de Ouro Preto; Prefeitura ainda não fez acordo

Após não conseguir acordo com a Prefeitura de Ouro Preto para a volta do transporte escolar que atende cerca de 60 crianças das comunidades do Vale do Tropeiro, Maracujá e Soares, distritos de Ouro Preto, o motorista da rota, Dangelo Silva, resolveu voltar com o itinerário, por conta própria, ainda sem receber pagamentos referentes aos meses de julho e agosto. O transporte voltará na quinta-feira (22).

As crianças estavam sem transporte há mais de duas semanas, porque o motorista não conseguiu um acordo com a Prefeitura de Ouro Preto para seguir com a prestação do serviço. Ao Sou Notícia, ele alegou dívidas do Executivo com sua cooperativa e afirmou que estava tendo prejuízos.

“Eu conversei com pessoas da minha família, porque querendo ou não, eu sou da comunidade; tenho parentes por lá. Visando que as crianças não passem pelo que estão passando, para que elas não percam o ano letivo, porque senão eles vão perder as provas agora e vão repetir de ano, eu vou voltar com o transporte escolar por minha conta”, conta Dangelo, que vai retomar o transporte por vontade própria, já que a Prefeitura de Ouro Preto se nega a entrar em um acordo.

Segundo Dangelo, houve uma conversa com a Prefeitura de Ouro Preto na última sexta-feira (16), após várias tentativas de resolver a situação, mas que continuou sem uma negociação, pois a administração pública alega não conseguir mudar o contrato vigente.

“Eu conversei com o pessoal da Secretária de Educação e de Transporte, com responsáveis pelo setor, e não tive êxito em nada. Na última sexta-feira, eu estive novamente na secretaria. Conversei pessoalmente com a Débora, responsável pela Secretaria de Educação e com a Sílvia, que até o momento está responsável pelo Transporte. Nós tentamos chegar a um acordo e infelizmente não conseguimos. Eles falaram que o valor a ser pago é ser esse, porque não tem como fazer aditivo ou mudança no contrato, nem pagar com reajuste devido aos atrasos. Eu fiquei sete meses sem receber. Foi um desgaste muito grande. Tive movimentação forte de diesel e funcionário. Quando o valor veio, não conseguimos tampar as despesas que foram feitas. Não pagaram nem julho e nem agosto. Estamos sem receber. Se esse pagamento vir, vai ser a partir de outubro e olhe lá”, diz o motorista.

Dangelo, então, tomou a decisão de voltar com o transporte escolar. “A partir desta semana eu estou voltando a rodar, atendendo as comunidades do Ratinho, Vale do Tropeiro e Soares. Lembrando que eu conversei com a comunidade no fim de semana e deixei claro que a prefeitura não está me pagando a mais. Eles não estão me pagando nada a mais. Eles não fecharam acordo nenhum comigo. Falaram que o que eu tenho de contrato é aquilo. Só que a minha consciência está pesada porque são, aproximadamente, 60 crianças que vão ficar prejudicadas. Eu tenho três filhos e o que não quero para meus filhos, não quero para os filhos dos outros. Baseado no meu conceito de família e de respeito às pessoas, estou voltando a rodar por minha conta e risco”, informa.

Mesmo sem ter conhecimento de quando vai receber o pagamento da Prefeitura de Ouro Preto, o motorista voltará a prestar o serviço. “Na hora que começar a rodar deve vir algum secretário ou vereador falando que teve conversa comigo e algum acordo, mas a verdade é essa: não teve acordo com ninguém. Eu não tive nenhum êxito na conversa que eu tive com o pessoal, mas visando o bem estar dessas crianças, para elas não perderem o ano letivo, eu estou voltando a rodar. Lembrando que não estou ganhando nada a mais por isso. O mês de julho está atrasado, o mês de agosto também e estamos no final de setembro. Eu vou começar a rodar agora e nem sei se vou receber isso em outubro ou novembro”, finaliza.

Entenda o caso

Uma situação tem tirado o sono de pais e responsáveis de crianças e adolescentes no Vale do Tropeiro, em Soares e no Maracujá, em Ouro Preto, na Região Central de Minas Gerais. De acordo com relatos recebidos pelo Sou Notícia, os estudantes estão há mais de duas semanas sem ir para a escola por falta de transporte.

As crianças (cerca de 60 alunos) estudam na Escola Municipal Benedito Xavier, localizada em Glaura, distrito de Ouro Preto. Os estudantes necessitam do transporte para terem acesso aos estudos, o que vem sendo negado aos menores.

“Eu tenho duas filhas, uma de 11 anos e uma de 7 anos. Já tem 15 dias que as crianças estão sem ir pra escola. Desde quando as aulas voltaram, a Prefeitura de Ouro Preto não está fornecendo transporte. Os motoristas não querem rodar no Vale do Tropeiro. Tentamos matricular elas na escola do Maracujá, porque é mais perto, e falaram que não tem como, porque não tem transporte pra lá”, lamentou a mãe de duas estudantes.

A falta de transporte, segundo a mãe das alunas, está afetando o desempenho das filhas, já que elas estão fazendo as atividades escolas em casa. “Isso está atrapalhando o aprendizado da minha filha e a pedagoga está cobrando o dever, sendo que não é culpa das mães o fato das crianças não estarem indo para escola. É falta de transporte escolar. Desde o começo do ano, as crianças estão ficando mais em casa do que na escola”, afirmou.

“Lembrando que estamos falando de crianças e educação é primordial. Não é a primeira vez que isso acontece. Está assim desde o início do ano. Meus sobrinhos moram lá e necessitam do transporte”, disse uma tia de outros estudantes.

Segundo a Prefeitura de Ouro Preto, o motorista que atendia a rota, um cooperado, desistiu do serviço por prejuízos ao veículo. Já o motorista alega que tentou fechar um acordo com a prefeitura e não conseguiu.

O que diz a Prefeitura de Ouro Preto

Nossa equipe entrou em contato com a Prefeitura de Ouro Preto para entender os motivos pelos quais os estudantes estão sem acesso ao transporte escolar. De acordo com o setor responsável, a falta do transporte acontece porque o cooperado que era responsável pelo serviço desistiu da rota.

O transporte escolar é realizado por uma cooperativa, que recebe a demanda da Prefeitura de Ouro Preto e executa o serviço. Acontece que o cooperado desistiu de continuar com a rota porque, segundo ele, não estava compensando, tendo em vista os prejuízos ao veículo.

O setor responsável afirmou que está tentando providenciar outro motorista o mais rápido possível, mas que ainda não conseguiu substituir o antigo cooperado. A Prefeitura de Ouro Preto cobra uma contrapartida da cooperativa, que tem um contrato e deve cumprir a função do transporte escolar.

Motorista que desistiu da rota responde

Dangelo Silva, o motorista que resolveu abrir mão da rota que atendia as crianças, procurou o Sou Notícia para dar sua versão dos fatos.

“A verdade não é essa. Eu já venho há um bom tempo trabalhando pra fazer uma revisão no valor do meu contrato, porque o contrato está defasado. A estrada é bem ruim, porque a maior parte é estrada de terra. Teve uma transição de responsáveis, na função de responsável pelo transporte na Prefeitura de Ouro Preto. De janeiro pra cá já passou em três. Tentei fazer a definição com todos os três e não consegui”, afirmou Dangelo.

Todo mundo aqui na região me conhece. Inclusive, eu moro na região. [A justificativa da Prefeitura de Ouro Preto] da a entender que eu estou sendo uma pessoa sacana, porque o carro está revisado e parado na porta de casa à disposição. Porém, enquanto eu não fechar um acordo; enquanto eu não tiver uma resposta positiva, eu não coloco o carro pra rodar, porque eu não consigo fazer o fechamento mensal com o valor que eles me pagam”, diz.

Como que eu vou rodar só aumentando o valor da minha dívida? Chega no final do ano, pra todo mundo é bom; os filhos cumpriram o ano letivo, a escola conseguiu fazer o fechamento, mas na hora que for olhar, eu estou devendo na praça. Então eu vou fazer o papel de bom moço e ficar endividado até o último fio de cabelo? Eu tenho filho pra tratar, financiamento pra pagar; a movimentação de óleo diesel é muito alta”, informou o motorista.

“Assim que eu aleguei dificuldade para manter a rota e falei que a rota estava à disposição, duas pessoas foram ver a rota, além de outra que já conhecia, e olha que eles têm mais quantidade de carros, e nenhum deles pegou. Eles simplesmente falaram que pra pegar lá tinha que ser valor X. Ou seja: daria uma diferença de 3 a 4 mil reais do que eu ganho, pra mais, para eles rodaram. Então, como a Prefeitura de Ouro Preto não está conseguindo nem manter o que é pra eu receber, você imagina aumentar 3 ou 4 mil“, enfatizou Dangelo.

“Já tem duas semanas que a rota está à disposição, mas ninguém pega com o valor que está lá, com a rota que existe e com as condições que tem. Se fosse uma coisa boa, eu poderia estar rodando lá e um monte de gente ia querer tomar de mim. Mas como é um lugar muito ruim, com condição ruim de trabalho, você vê que a gente coloca à disposição e ninguém quer pegar. É muito complicado”, finalizou.

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